quinta-feira, 16 de abril de 2009

SÍNDICO REMODELADO


Terceiro álbum da banda Falcatrua - com direção artística de Nelson Motta e produção de John Ulhoa – traz versões improváveis e abusadas do repertório consagrado de Tim Maia

Quando da publicação da biografia de Tim Maia, Nelson Motta esteve em BH para lançamento do livro. Gostaria que alguma banda se apresentasse tocando músicas que ficaram conhecidas na voz de Tim: chamou a banda Falcatrua para a ocasião. Tanto Nelson quanto quem ali estava foram conquistados pela sonoridade apresentada, ainda não explorada naquelas canções. Eram as versões que a banda criou para músicas já tão estouradas no passado do soul brasileiro. Nelson Motta gostou tanto que não viu outra saída senão entrar no projeto e aceitar o convite para fazer a direção artística de um álbum que contasse somente com músicas que fizeram sucesso na voz de Tim Maia, modeladas com aquele clima criado pelo conjunto, usando sua própria textura como tempero. John Ulhoa, do Pato Fu, já conhecia a banda e acabou sendo convidado para fazer a produção do disco. Dessa árdua e ousada tarefa, nascia ali o escopo do cd “Vou Com Gás”, que chega às lojas no mês de abril.

O álbum é composto por dez músicas da carreira estelar de Tim Maia. A maioria das músicas faz parte da fase soul music clássica do compositor: a grande maioria virou hit. Durante quase todo o disco o clima de festa é constante, algo já esperado diante da mistura entre o soul incontrolável de Tim Maia e o rock pujante do Falcatrua. Acabou dando ao repertório uma empolgante liga disco-rock, trilha certeira para aqueles momentos de pista. Foi a sonoridade buscada pelos arranjos propostos por John Ulhoa. “Eu tinha pra essas músicas [a idéia de] um som na praia de bandas [...] que martelam guitarras e moogs furiosos em cima de bases dançantes”, entrega o produtor, que diz ter aceito o convite logo de cara: “vi que ia dar caldo”.

A ousadia do grupo reside em estudar em profundidade a história musical de Tim, nome polêmico e de qualidade inquestionável da música brasileira. O risco de cair no óbvio era grande, já que a maioria das músicas é conhecida do grande público na vida e voz de um titã brasileiro. Porém, tendo a inventividade como norte, aliados ao auxílio luxuoso de Nelson e John, os músicos do Falcatrua ligaram as máquinas, engataram a primeira e o trabalho foi tomando corpo. As músicas ficaram ainda mais abusadas e calorosas na voz e performance de Miglio com a banda executando aqueles novos arranjos. As músicas ganharam cara nova: a baladíssima ficou com ritmo mais empolgante; o soul agora vibra com a proposta mais rock. O grupo só não podia perder o impulso do rock. “Acho que eles são, basicamente, uma banda de rock, no sentido até clássico da palavra”, pondera John.

Cada qual em sua época, cada um na sua intensidade e sintonia, o Falcatrua tem muita proximidade com a verve de Tim. Seja pelo groove de suas músicas, pelas letras que sempre mandam recado, pela postura performática nos shows - que ao contrário do rei do soul, o Falcatrua garante pontualidade -, o grupo traz pro rock a malemolência do funk/soul, resultando numa proveitosa mistura musical.

Além de produzir o disco, John Ulhoa acabou participando também das gravações. “É natural pra mim, gravo quando há uma lacuna ali, que acho que posso contribuir”, esclarece o produtor e guitarrista. “Toquei pouquíssima guitarra, queria que a impressão guitarrística da banda tivesse sua própria cara”, continua. “O que mais toquei foram teclados”, finaliza John.

Conhecido também pela irreverência, Tim era um artista inominável. Compunha com invejável facilidade e leveza, características que o Falcatrua pretende transpor ao palco, que certamente vai ficar aquecido e com ares de festa: de sonoridade empolgante, o Falcatrua conclama a todos às a curtir as letras criativas do síndico Tim Maia nesta união que promete conquistar os entusiastas da música boa e divertida, descompromissada e despretensiosa – assim como Tim Maia fazia questão de ser.
John Ulhoa resume bem o conceito do álbum: “Eu queria um disco cheio de guitarras, que tocasse todo numa festa e o pessoal iria se chacoalhar até cansar, com aquela pausa pra namorar em uma única canção lenta. Acho que era meio a fórmula do Tim”. É isso.

A BANDA

Uma das bandas de rock mais atuantes de Minas Gerais, o Falcatrua já participou de vários festivais de música tanto em seu estado quanto em outros, como o MADA [Natal-RN], Conexão Telemig Celular [atual Conexão Vivo], Festival Internacional de Teatro [FIT], Projeto Stereoteca [BH], Jambolada [Uberlândia], Feira da Música [CE], dentre outros.

Vale o lembrete: Falcatrua é a essência corrompendo o rótulo.

O show inaugural do cd “Vou Com Gás” acontece no dia 21 de abril, às 21h30, dentro do Conexão Vivo, no Parque Municipal de Belo Horizonte.

Vou Com Gás, por Terence Machado:

Além de cantor sublime e excelente compositor, dá pra dizer que Tim Maia foi também uma espécie de rei da “falcatrua” na MPB. São histórias e mais histórias, envolvendo o artista e seu jeito peculiar de embaraçar e desembaraçar situações a fim de conseguir exatamente aquilo que desejava. Nem todas estavam relacionadas à música, é bem verdade. Várias delas ganharam as páginas de Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia, escrito pelo jornalista e produtor Nelson Motta.

Recentemente, num caso de pura coincidência ou sabe-se lá dessas uniões espirituais que nem mesmo um Tim Maia prá lá de racional ousaria descrever; Nelson Motta acabou envolvendo “o artista” numa nova Falcatrua. Com “F” maiúsculo porque longe de qualquer conotação pejorativa Falcatrua, aqui, é a banda mineira que topou com Nelson, no lançamento de Vale Tudo, em Belo Horizonte, e aproveitou para tocar algumas das músicas do “síndico” com muita propriedade; sem ter que apelar para o manjado pout-pourri que bandas de baile sempre sacariam nesse tipo de ocasião, emendando somente meia dúzia de super sucessos do cantor.

Curiosamente o pessoal do Falcatrua nunca quis sossego, nem quando passou a detonar em seus shows uma versão poderosa feita justamente para a canção nada sossegada, ao contrário disto, cheia de inquietude, composta por Tim Maia. Muito menos agora, quando precisou partir com todo o gás rumo à produção de um projeto especial sob a direção artística de ninguém menos que o já citado Nelson Motta(um verdadeiro Midas da mpb), abarcando uma dezena de composições de um sujeito controverso como Sebastião Rodrigues Maia. Tão logo o músico Gleison Túlio chegou para tomar conta das guitarras, o também guitarrista (e produtor) John Ulhoa (Pato Fu), escalado para produzir o trabalho, pôde finalmente procurar as texturas sonoras perfeitas para essa trilha – a começar pela gravação de “Não Vou Ficar”. A canção que ajudou a dar novos contornos profissionais à carreira do rei Roberto, no fim da década de sessenta, ressurge agora com arranjo ‘disco rock’!

Pesado, sem sacrificar o balanço, dançante sem perder o vigor. Mais conceito do que rótulo, mais pegada que conceito, é exatamente a pulsação ‘disco rock’ que turbina a Tim(em)balada do Falcatrua. A faixa-título Vou Com Gás e outras mostram algumas mudanças de marcha, nunca de atitude, pois o destino do grupo, mais do que alcançar o sucesso, (ou, no caso do projeto em questão, fazer um tributo), é nunca perder a sintonia com a boa música e todos que buscam esta mesma freqüência.

Devidamente sintonizados, todos os nomes de peso envolvidos nessa missão nos convidam a brindar e celebrar tin tin por Tim Tim uma armação sonora, quer dizer, uma Falcatrua das melhores, proporcional ao apetite musical do saudoso homenageado.

FAIXA A FAIXA
1 – Vou com Gás: Ritmo, efeitos eletrônicos e leves batidas: Vamos pra Minas Gerais.
2 – Sossego: Uma pancada, casamento entre a força guitarra e presença do vocal. Verdadeiro puxão de orelha cuja versão cabe perfeitamente em qualquer show de rock.
3 – A Festa de Santo Reis: Ficou nervosa, ganhou até banjo. Não fique parado, guitarra sempre.
4 – Você e Eu, Eu e Você: Tim Maia está apaixonado, quer todo mundo juntinho. A letra é amorosa, romântica, mas a bateria impõe o ritmo e a banda segue na mesma medida e clima. Tema para dançar com seu par na pista. No final, o peso dos riffs da guitarra avisam: é uma banda de rock.
5 – Gostava Tanto de Você: A introdução é surreal, faz parecer um rock pesado e inevitável. Batida com compasso firme, marcando a tensão. O último nome ao qual você irá lembrar é Tim Maia. Guitarra e ritmo, nada mais. Declaração com letra melancólica, mas a tristeza aqui não tem vez.
6 – Não Vou Ficar: Aqui a guitarra pulsa e dá as caras, como sempre. O timbre empolga e a música vira um grito de revolta com um período de reflexão.
7 – Azul da Cor do Mar: A letra é linda, chorosa. Aproveite, é a única balada do álbum. A pausa pra namorar, segundo John Ulhoa. O mar em formato cd.
8 – Vale Tudo: Uma misteriosa introdução, uma sirene que dá o alarde: tudo é possível. O recado é curto, grosso e eficiente. Ritmos e efeitos que explodem nessa espécie de hino de uma geração libertária.
9 – Cristina: Quase mística, canto de despedida, ida alegre e apaixonada. Arranjo que prende e cola. Simbora dançar?
10 – Réu Confesso: Mea culpa musicado. Aqui a guitarra não pede, manda. Não parece, mas é Tim Maia. Solo potente e incrível.

SERVIÇO:
Banda Falcatrua
Lançamento do cd “Vou Com Gás”
Data: 21 de abril, às 21h30
Ingressos: R$10,00 inteira, R$5,00 meia-entrada
Local: Parque Municipal Américo Renê Giannetti
Av. Afonso Pena, 1377 - Centro.
Belo Horizonte – Minas Gerais
Mais informações sobre o Falcatrua em http://www.falcatrua.com.br/.

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