“As Iracemas”, documentário de Alexandre Pires Cavalcanti, tem sessão única na próxima terça-feira
"Entretanto farei sempre uma observação, em primeiro lugar,
a tradição oral é uma fonte importante da história,
e às vezes a mais pura e verdadeira”. (José de Alencar)
Num casebre de pau a pique no Ribeirão do Prata, região do Alto do Mingu, vivem Edite, Maria, Beleza e Iracema – a matriarca dessa família de mulheres. Próximo dali há poucos moradores, elas vivem há anos nessa região entre montanhas. O cotidiano dessa família que vive ali há três gerações é tema de “As Iracemas”, filme do diretor mineiro Alexandre Pires Cavalcanti, que conta com trilha sonora assinada por Kiko Klaus.
No lugarejo que antes era bem povoado - devido à intensa extração de madeira para produção de carvão -, agora não há mais ninguém morando ali, somente elas. Tanta madeira foi tirada que nada sobrou, o local agora é desabitado. Desguarnecidas de qualquer luxo da modernidade – luz elétrica chegou no lugarejo há pouco tempo -, as Iracemas levam seus dias sem muitas reclamações.
A quietude do local é refletida no olhar contemplativo da câmera do diretor. Somente assim seria possível captar com fidelidade e respeito a realidade tão peculiar daquelas mulheres, as quais têm em suas faces as marcas da vida. Observando a rotina das Iracemas, o diretor proporciona ao espectador entrar naquele mundo tão especial e único.
“Meu pai era bicho brabo, era de amargá, vivia memo mais nós só aí”. Essa frase, dita por uma das Iracemas, dá o tom de como foi a criação dessas mulheres, sempre reclusas entre as paredes de pau a pique.
As Iracemas preenchem suas horas com tarefas simples, como alimentar passarinhos, galinhas e cachorros, lavar roupas no tanque, fazer comida no fogão a lenha, cuidar de cavalos. No entanto, qualquer atividade cotidiana ganha outro brilho nas mãos dessas mulheres, já que entre uma tarefa e outra elas foram contando algumas de suas histórias, como quando garantem terem visto a mula-sem-cabeça. Trata-se do olhar acurado de Cavalcanti, que teve a preocupação de colher cenas com a maior naturalidade possível, sem interferir na rotina das Iracemas. Conseguiu, assim, suscitar as peculiaridades da vida dessas mulheres tão interessantes e misteriosas.
Mas o processo não foi fácil nem rápido. O cineasta levou dois anos para convencer a família a deixá-lo filmar no casebre. Foi essa paciência de Cavalcanti que proporcionou a captação de belas cenas, como o momento em que uma das irmãs revela seu dom: tocar acordeão. Outra cena de destaque é o encontro das Iracemas à beira do fogão à lenha brincando com um velho boneco, relembrando momentos da infância.
No decorrer do filme, o cenho das Iracemas vai se abrindo aos poucos; nota-se que elas foram conquistadas pela lente da câmera. Assim, a matriarca da família revela seu passado, a infância, rememorando fatos guardados na última gaveta da memória. As filmagens ocorreram ao longo de 2 anos, e passados quinze dias do encerramento, uma triste notícia: Iracema, a matriarca, faleceu.
O documentário foi exibido neste mês na 13ª Mostra Internacional do Filme Etnográfico, que aconteceu no Rio de Janeiro. Acaba de ganhar menção honrosa do Prêmio Manuel Diegues Júnior, do Museu de Folclore Edison Carneiro, pela “negociação ética e estética com o outro”.
Em Belo Horizonte, o filme tem exibição única no charmoso e renovado Cineclube Unibanco Savassi.
FICHA TÉCNICA
“AS IRACEMAS”
BRASIL, 65 MINUTOS, 2008
DIREÇÃO: ALEXANDRE PIRES CAVALCANTI
PRODUÇÃO: IMAGO
SESSÃO ÚNICA EM BELO HORIZONTE: 25 DE NOVEMBRO, ÀS 21H.
CINECLUBE UNIBANCO SAVASSI
RUA LEVINDO LOPES, 358 – FUNCIONÁRIOS.
"Entretanto farei sempre uma observação, em primeiro lugar,
a tradição oral é uma fonte importante da história,
e às vezes a mais pura e verdadeira”. (José de Alencar)
Num casebre de pau a pique no Ribeirão do Prata, região do Alto do Mingu, vivem Edite, Maria, Beleza e Iracema – a matriarca dessa família de mulheres. Próximo dali há poucos moradores, elas vivem há anos nessa região entre montanhas. O cotidiano dessa família que vive ali há três gerações é tema de “As Iracemas”, filme do diretor mineiro Alexandre Pires Cavalcanti, que conta com trilha sonora assinada por Kiko Klaus.
No lugarejo que antes era bem povoado - devido à intensa extração de madeira para produção de carvão -, agora não há mais ninguém morando ali, somente elas. Tanta madeira foi tirada que nada sobrou, o local agora é desabitado. Desguarnecidas de qualquer luxo da modernidade – luz elétrica chegou no lugarejo há pouco tempo -, as Iracemas levam seus dias sem muitas reclamações.
A quietude do local é refletida no olhar contemplativo da câmera do diretor. Somente assim seria possível captar com fidelidade e respeito a realidade tão peculiar daquelas mulheres, as quais têm em suas faces as marcas da vida. Observando a rotina das Iracemas, o diretor proporciona ao espectador entrar naquele mundo tão especial e único.
“Meu pai era bicho brabo, era de amargá, vivia memo mais nós só aí”. Essa frase, dita por uma das Iracemas, dá o tom de como foi a criação dessas mulheres, sempre reclusas entre as paredes de pau a pique.
As Iracemas preenchem suas horas com tarefas simples, como alimentar passarinhos, galinhas e cachorros, lavar roupas no tanque, fazer comida no fogão a lenha, cuidar de cavalos. No entanto, qualquer atividade cotidiana ganha outro brilho nas mãos dessas mulheres, já que entre uma tarefa e outra elas foram contando algumas de suas histórias, como quando garantem terem visto a mula-sem-cabeça. Trata-se do olhar acurado de Cavalcanti, que teve a preocupação de colher cenas com a maior naturalidade possível, sem interferir na rotina das Iracemas. Conseguiu, assim, suscitar as peculiaridades da vida dessas mulheres tão interessantes e misteriosas.
Mas o processo não foi fácil nem rápido. O cineasta levou dois anos para convencer a família a deixá-lo filmar no casebre. Foi essa paciência de Cavalcanti que proporcionou a captação de belas cenas, como o momento em que uma das irmãs revela seu dom: tocar acordeão. Outra cena de destaque é o encontro das Iracemas à beira do fogão à lenha brincando com um velho boneco, relembrando momentos da infância.
No decorrer do filme, o cenho das Iracemas vai se abrindo aos poucos; nota-se que elas foram conquistadas pela lente da câmera. Assim, a matriarca da família revela seu passado, a infância, rememorando fatos guardados na última gaveta da memória. As filmagens ocorreram ao longo de 2 anos, e passados quinze dias do encerramento, uma triste notícia: Iracema, a matriarca, faleceu.
O documentário foi exibido neste mês na 13ª Mostra Internacional do Filme Etnográfico, que aconteceu no Rio de Janeiro. Acaba de ganhar menção honrosa do Prêmio Manuel Diegues Júnior, do Museu de Folclore Edison Carneiro, pela “negociação ética e estética com o outro”.
Em Belo Horizonte, o filme tem exibição única no charmoso e renovado Cineclube Unibanco Savassi.
FICHA TÉCNICA
“AS IRACEMAS”
BRASIL, 65 MINUTOS, 2008
DIREÇÃO: ALEXANDRE PIRES CAVALCANTI
PRODUÇÃO: IMAGO
SESSÃO ÚNICA EM BELO HORIZONTE: 25 DE NOVEMBRO, ÀS 21H.
CINECLUBE UNIBANCO SAVASSI
RUA LEVINDO LOPES, 358 – FUNCIONÁRIOS.
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